Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR é formado pelo conjunto de livros escolares das antigas bibliotecas públicas infantis da cidade de São Paulo.

Com 5 mil volumes, o Acervo é composto por cartilhas, manuais escolares de todas as matérias de ensino, antologias literárias e livros de referência de uso escolar, entre outros, do século XIX até a década de 1980 e abrange os cursos primários, os secundários, os de formação de professor e o ensino técnico.
O Acervo está localizado na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Neste blog serão publicadas informações sobre esse acervo.


Seja bem-vindo.







segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

O livro escolar e as ilustrações

O livro escolar como fonte de pesquisa apresenta inúmeras possibilidades. Além do olhar do pesquisador, no sentido de uma mesma fonte suscitar diferentes abordagens, no universo do conhecimento há várias áreas de investigação.
Objeto da cultura, o livro escolar insere-se em um ambiente pedagógico específico e em um contexto histórico e cultural. Como produto da intencionalidade do processo educativo, por sua vez, está impregnado pelas políticas, vertentes e métodos educacionais que compõe determinada organização social
As ilustrações nos livros didáticos, por exemplo, podem ser um recorte de pesquisa desse material. A imagem como ferramenta pedagógica facilitadora do processo de ensino e da aprendizagem; o formato do livro; seu projeto gráfico, entre outros aspectos demonstram não só as mudanças nos métodos e nas práticas escolares, quanto na exposição de valores e modos de pensar.
Não sei precisar quando as ilustrações se tornaram importantes no livro didático. (1) Alguns livros dos cursos primários publicados no século XIX, que fazem parte do AHLE, como A História de São Paulo (2) primam pelo texto, com pouquíssimas ilustrações.
O AHLE, com cinco mil livros escolares, abrange um vasto período da história da educação e do país e assim diferentes formas de apresentação do livro didático.
 
Notas:
(1)   Entre outros autores, BITTENCOURT, Circe Maria  Fernandes. Livros Didáticos Entre Textos e Imagens in O Saber Histórico na Sala de Aula. 11ª Ed. São Paulo: Contexto, 2006.
(2)   AMARAL, Tancredo. A história de São Paulo ensinada  pela biografia. Fco Alves, São Paulo, 1895.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Livros esquecidos

“Ciências para o Madureza” (1) foi o primeiro livro do Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE.  Ora, um livro não mais usado, de um curso já extinto, com uma nomenclatura fora do padrão atual, além de conteúdos defasados, principalmente em relação ao desenvolvimento tecnológico só poderia ter um destino: o lixo ou a reciclagem de papel.

Mas por um feliz acaso o livro foi salvo da destruição e mais, foi o embrião de outros compilados nos acervos  das Bibliotecas mais antigas da cidade de São Paulo. Essas Bibliotecas foram criadas ao longo das décadas de 1930, 40 e 50.

BENJAMIN (2002), em um texto sobre livros “velhos e esquecidos” relata a respeito de um colecionador alemão de livros infantis, que os salvou da máquina de triturar papel. Esse comentário é bem vindo quanto à formação do AHLE, pois livros sem uso transformaram-se em um acervo de valor documental acessível para pesquisadores.

HOBSBAWM (1998, p. 220), sobre as fontes de pesquisa para a História, assinala que é o olhar investigativo ou as questões postas pelo pesquisador que transformam documentos em fontes de pesquisa. Em geral, não existe material algum até que nossas perguntas o tenham revelado, afirma o autor.

Porquanto somente alguém voltado à pesquisa poderia ver em um livro de Madureza da década de 1970 um documento a ser preservado, junto a outros livros escolares antigos. Sem dúvida minha formação em História e Filosofia da Educação aliada à vocação para a investigação científica foi o solo fértil para o projeto de organização do AHLE, disponibilizado para pesquisadores em 2008.

Mas voltando a esse primeiro livro, o que foram os cursos de Madureza? A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB de 1961, previa um curso para jovens e adultos que haviam perdido ou não haviam frequentado o ginásio e o colegial no tempo certo. Ginasial e Colegial foram graus de ensino equivalentes hoje ao segundo ciclo do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio. Para a inscrição nos cursos de Madureza a idade mínima era 16 anos.

O Projeto Minerva nos anos de 1970 e os Cursos Supletivos substituíram os de Madureza. Na cidade de São Paulo o Curso de Madureza Santa Inês foi um dos mais reconhecidos.

O AHLE mantém algumas dezenas de livros de Madureza, dos cursos Supletivos, como também dos antigos Cursos de Admissão.

Notas:

(1) AMARAL, Oswaldo Luiz de Souza. Ciências para o Madureza. Primeiro Grau. São Paulo, Editora Ática, 1972.

Referências Bibliográficas:

BENJAMIN, Walter (2002).  Livros infantis velhos e esquecidos. In: reflexões sobre a criança, o brinquedo e a Educação. São Paulo, Duas Cidades e Editora 34.

HOBSBAWM, Eric (1998).  Sobre a História. São Paulo, Cia das Letras.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

PESQUISAS NO ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE



  1. De uma forma geral o AHLE chama a atenção de um público voltado para a pesquisa. Nesse sentido, graduandos, pós-graduandos, professores e alunos de várias áreas das ciências humanas, como Letras, Pedagogia, História, Biblioteconomia, Geografia e outras buscam no Acervo material para seus trabalhos e pesquisas.
Sabemos que a escolha de determinada fonte é resultado da indagação do pesquisador e do objeto a ser investigado e nesse sentido o uso cada vez mais diversificado de materiais, como a iconografia, os testemunhos orais e outros decorre da especificidade da pesquisa e do perfil de quem a faz.
Da mesma forma que outras fontes, oficiais ou não, o livro escolar por si só não contém um caráter elucidativo. Como afirma Hobsbawm (1997, p. 224) mesmo a melhor das fontes (...) apenas esclarece certas áreas daquilo que queremos conhecer. O que devemos fazer é reunir uma ampla variedade de informações em geral fragmentárias.
Em relação ao AHLE já  fizemos um levantamento de temas e livros mais procurados, como também dos educadores mais  solicitados. Destaco aqui dois autores de livros didáticos que foram tema de pesquisa recentemente. Um deles, Thales de Andrade (1890-1977), professor,  escreveu vários livros de histórias infantis da série Encanto e Verdade da Ed. Melhoramentos, da qual foi também organizador. Alegria (leitura intermediária), de 1938, da Ed. Cia Nacional,  Saudade (1919) e Ensinando a Constituição (1954), são também livros de uso escolar de Andrade mantidos pelo AHLE.
Sergio Buarque do Holanda (1902-1982) foi outro autor de livros escolares procurado para pesquisa.
O AHLE tem livros de História do Brasil e História da Civilização da 1ª a 8ª série do antigo 1º grau (atual ensino fundamental) dos anos de 1970, editados pela Cia Editora Nacional de São Paulo, de sua autoria.
Além dos títulos, muitos pesquisadores buscam autores de livros didáticos como fonte para seus trabalhos e o AHLE, com 5 mil livros e abrangendo 80 anos da História da Educação, dispõe de farto material para esses estudos.
 
 
Referências Bibliográficas
 
HOBSBAWM, E. (1998).  Sobre a História. São Paulo, Cia das Letras.
 


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

HERÓIS NACIONAIS


Heróis compõem muitas vezes histórias de ficção infantis e juvenis e o que lhes confere esse atributo é se destacarem em algum acontecimento. Agora, fora da ficção, heróis são personagens fabricados pela História em um determinado contexto e associados a um passado glorioso.

Mártires, salvadores, patriotas, heróis fazem parte de uma visão individualista, personalista e muitas vezes fatalista, onde o processo histórico ou as condições favoráveis a certos acontecimentos são deixadas de lado. Assim é um feito, geralmente um protagonista, com sua vontade e destemor o sujeito responsável por algum fato ou evento.

O ensino de Historia esteve e muitas vezes ainda está permeado por uma perspectiva positivista e tradicional que privilegiam ações individuais, a cronologia dos fatos e a linearidade.

Uma nova abordagem em História a partir dos anos 1960 e depois dos anos 1980, com o fim da ditadura e da censura, expôs a dimensão coletiva das mudanças na trajetória do país, os interesses envolvidos e o papel dos vários grupos sociais. Assim uma interpretação mística e fatalista deixa de existir e dá lugar à crítica e à reflexão.

 O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE tem vários livros didáticos e para-didáticos que tratam dos vultos da pátria, dos heróis nacionais, vistos como personalidades exemplares. A maioria desses livros é dos anos 1940 e 1950 e foram utilizados nas escolas. Valem como registro e fontes de pesquisas.

Bibliografia

LEÃO, Antonio Carneiro. Meus Heróis. A  Noite, RJ, 1943 Il. Armando Pacheco.

LOBO, Chiquinha Neves. Glórias Brasileiras. s/ed. São Paulo, 1944. 






sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Thomaz Galhardo


Thomaz Galhardo nasceu em Ubatuba em 1855, falecendo em 1904. Estudou na Escola Normal de São Paulo e foi professor, ocupando vários cargos na Instrução Pública do Estado.

É reconhecido pela publicação de livros didáticos para as primeiras letras. Sua Cartilha Elementar para a Infância, do início da década de 1880, baseia-se no método de silabação; publicou o Segundo Livro de Leitura Na escola e no Lar e  o Terceiro Livro de Leitura para a Infância ainda nas últimas décadas do século XIX. Sua obra foi editada pela Editora Francisco Alves  e alcançou inúmeras edições.




O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE possui duas Cartilhas, uma de 1940 e outra de 1946, já na 158ª edição.  O Segundo Livro de Leitura data de 1960, na 81ª edição e o Terceiro Livro de Leitura é o mais antigo do Acervo,  de 1907, na 5ª edição.




Mesmo com algumas modificações e ampliações, como no caso da Cartilha da Infância, os livros de Galhardo têm, além da raridade, como todo livro didático antigo em nosso país, o privilégio de serem editados e reeditados por muito tempo, alcançando assim várias gerações. (1)

O AHLE resguarda inúmeras cartilhas, como também edições seriadas, como essa do Galhardo: um livro de alfabetização seguido de outros, geralmente  quatro livros, de acordo com as séries do Grupo Escolar, modalidade de escola inaugurada com a República.

Notas:


(1) Verificar: SANTOS, Luana Grazielle. Um estudo sobre a cartilha da infância (188?),  de Thomaz Galhardo, publicado na Revista de Iniciação Científica da FFC, v. 7, n. 3, p. 332-342, 2007.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Gramática na escola


A gramática refere-se ao estudo das regras da linguagem e das leis que a regulam.

Livros de gramática são aqueles que expõem essas regras.  A gramática é dinâmica e observa-se que sofre mudanças ao longo do tempo.  Um interessante site sobre a história da gramática é gtgramaticashdd.wix.com/gtgramaticas, do Grupo de Trabalho “História, Descrição e Discurso.” Nele há um blog que mostra o processo de construção e consolidação da  língua.

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE mantém dezenas de livros escolares de gramática, desde os específicos sobre o tema até os de leitura escolar com ensinamentos sobre a matéria e também antologias gramaticais. O mais antigo é de 1927.

Muitas vezes a gramática é considerada uma parte árdua do aprendizado da língua. Mas se pensarmos em como foi construída nossa língua, já que não nasceu pronta, veremos o criativo e artístico dessa empreitada.

Gramático é até uma especialidade na formação dos profissionais formados em Letras. É aquele que escreve acerca da gramática ou se dedica a estudos gramaticais.

E então, vamos gramaticar?






Notas:

1ª ilustração: MOTTA, Othoniel. Chave da língua – primeiras noções de grammatica ministradas à infância. Estab. Graphico Irmãos Ferraz, SP. 1930.

2ª ilustração: ALI, M. Said. Grammatica Historica da Lingua Portugueza.SP. Melhoramentos, 2ª ed. 1927 (1ª. ed. 1921, segundo apresentação).










terça-feira, 1 de julho de 2014

O estudo dos verbos

Em qualquer acervo de livros escolares, livros de língua portuguesa ocupam grande parte do espaço. Não é diferente com o ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE. Na divisão didática e organizacional do Acervo, subdividimos os livros escolares dessa matéria em: de alfabetização; primeiras leituras; comunicação e expressão; literatura geral; poesia; literatura portuguesa; literatura brasileira e gramática. E mais os paradidáticos em: sintaxe; redação; ortografia; recitativos; leitura; exercícios; referência e dicionários. Além da divisão nos graus de ensino primário e secundário.




Outros livros de lingua portuguesa são voltados para a “formação de professores”,  em uma abordagem pedagógica para o ensino da língua, com sugestões de atividades em sala de aula.  Recupera-se assim a história da didática e dos  métodos de ensino ao longo do período de abrangência do AHLE: fim do século XIX até os anos 1970.


Sobre livros escolares de lingua portuguesa destacarei neste texto os verbos. O estudo dos verbos, em qualquer idioma, muitas vezes mostra-se penoso. No portugues não é diferente. Quem não se lembra das aulas de conjugação verbal? Regulares, irregulares, anômalos, defectivos... Verbos eram listados e estudados até em livros separados. Só para eles! Ainda é assim.


No AHLE eles estão distribuídos em livros de sintaxe; de referência e de formação de professores,  somando algumas dezenas.

O mais antigo sobre verbos é de 1942: Dicionário de Verbos e Regimes – mais de 10 mil verbos em suas diferentes acepções e regência, de Francisco Fernandes, da Editora Globo de Porto Alegre.

Outro é Breviário de conjugação de verbos em língua portuguesa, de 1961, autoria de Otelo Reis, já na 26ª edição, da ed. Fco.Alves.

Dicionário de Conjugação de verbos, de 1969 e O problema da regência, de 1967, são outros exemplos de livros resguardados pelo AHLE.



 
Entre tantas referências sobre verbos, seu uso e aprendizagem, eu prefiro com a poesia:



 “Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta”. Cecília Meireles.

Bom, não é?

Nota:

A ilustração com a página refere-se ao Dicionário de Verbos e Regimes.

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Ciências Naturais nos Currículos Escolares





Os currículos escolares compõem-se por conteúdos e práticas educativas historicamente constituídas e assim o ensino de caráter mais humanístico, literário, científico ou universalista se configura como ideário de determinado contexto.

No Brasil as disciplinas de ensino foram organizadas como grade escolar no século XIX. Até então prevalecia o ensino das primeiras letras, salvo iniciativas isoladas e também o ensino humanista, com o predomínio da ideologia católica. (1)



Pois a vinda da família real em 1808 proporcionou o incentivo a iniciativas culturais, científicas e educacionais, destacando-se na Educação o Colégio D. Pedro II em 1837, escola secundária criada no Rio de Janeiro como modelo  para o resto do país. Nesse período havia ainda alguns liceus e poucas escolas de caráter privado.

O ensino propedêutico e universalista compôs o currículo do Col. Pedro II.  Na primeira matriz curricular desse colégio, distribuída em oito series, aparecem as disciplinas História Natural e Ciências Físicas.

Já na primeira reforma educacional da República em 1890, (Reforma Benjamin Constant), conciliou-se o humanismo com o enciclopedismo, de clara inspiração positivista. No ensino médio constavam as disciplinas Biologia, Zoologia e Botânica.

Nos anos 1930, a Reforma Francisco Campo estabeleceu a nível nacional o currículo seriado para o curso secundário e nele Ciências Físicas e Naturais nas 1ªs e 2ªs séries do ciclo fundamental. Para o ciclo complementar, Biologia Geral e Higiene para o preparatório à Faculdade de Direito e História Natural para os preparatórios de Medicina e Engenharia.

A Reforma Capanema nos anos 1940 estabeleceu outra divisão na grade de ensino. Ciências Naturais aparecem nas 3ªs e 4ªs series do curso Ginasial; no Curso Clássico, Biologia no 3º ano e no curso Científico, Biologia nos 2º e 3º anos. Ciências Naturais fez parte do Ensino Normal.

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE resguarda centenas de livros de Iniciação as Ciências e de Ciências para os cursos elementares  e secundários; livros paradidáticos; sobre o corpo humano; livros de Biologia, Zoologia, Botânica e Higiene, entre outros. Há também os multidisciplinares para os cursos elementares com ensinamentos de ciências para as crianças.

Notas:

(1) Entre outros autores, Severino, Antonio Joaquim. Educação, Ideologia e Contra-Ideologia, SP, EPU, 1986.


Referências Bibliográficas:

ROMANELLI, Otaíza. História da Educação no Brasil. Petrópolis,Vozes, 1988.

SOLANGE Aparecida Zotti. Sociedade, Educação e Currículo no Brasil  (dos jesuítas aos anos 1980). Campinas, Autores Associados, 2004.




segunda-feira, 19 de maio de 2014

AROLDO AZEVEDO E LIVROS DE GEOGRAFIA







A edição sistemática de livros didáticos entre nós remonta as primeiras décadas do século XX. O Instituto Nacional do Livro foi criado em 1929 e a Comissão Nacional do Livro Didático pelo Decreto-Lei 1006, em 1938.

Vários autores de livros escolares se consagraram desde então principalmente por produzirem livros de determinada matéria de ensino, publicados durante um longo período e usados por várias gerações de estudantes.
É o caso de Aroldo de Azevedo (1910-174), geógrafo formado pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da USP, um dos primeiros professores de Geografia e renomado autor de livros didáticos.

Geografia das Crianças destinada ao ensino primário, 1ª edição de 1947, é o livro mais antigo do autor resguardado pelo AHLE. Duas dezenas de livros de Geografia, tais como Geografia Regional; Geografia do Brasil; O mundo em que vivemos; Os continentes, de Aroldo de Azevedo e destinados aos antigos cursos primários, ginásios e colegial compõem, entre livros de outros autores, uma amostra representativa de livros didáticos de geografia usados nas escolas do país.

Ao todo o AHLE mantém uma centena de livros escolares de Geografia, entre didáticos, paradidáticos, mapas e de referência como os Atlas, desde a década de 1910 até os anos 1970. Desse modo é um acervo considerável das várias fases do ensino escolar, desde o livro didático voltado para o professor; os que apontavam o estudante como o centro da aprendizagem; a geografia mais física que política; a "decoreba"; livros que exploravam o conhecimento específico para o mais geral e assim por diante.
Como recurso didático o livro escolar representa as várias concepções pedagógicas, tais como a Pedagogia Tradicional e a Escola Nova e também diferentes abordagens no ensino da Geografia, no caso.
As ilustrações compõem diferentes aportes e recursos gráficos apresentados nos livros de uso escolar.
A dissertação de Mestrado  de Paula Priscila G. Nascimento Pina, A relação entre o ensino e o uso do livro didático de Geografia, defendida na UFPB em 2009, é um dos trabalhos acadêmicos sobre livros didáticos de geografia.

Referências Bibliográficas:


SAVIANI. Demerval. História das ideias pedagógicas no Brasil. Campinas,SP, Autores Associados, 2008.





quarta-feira, 23 de abril de 2014

Lourenço Filho e os Livros Escolares


Manuel Bergström Lourenço Filho (1897-1970), educador, ocupou cargos públicos e foi autor de vários livros didáticos.
Reconhecido como um dos pioneiros do Movimento da Escola Nova [1] sofreu críticas por ter participado do período do Estado Novo, ditadura liderada por Getúlio Vargas entre os anos de 1937 e 1945.
Sobre a Escola Nova, Lourenço Filho (1978, p. 151), um de seus precursores no país, afirma que "aprende-se observando, pesquisando, perguntando, trabalhando, construíndo, pensando e resolvendo situações problemáticas apresentadas, quer em relação ao ambiente de coisas, objetos e ações práticas, quer em situações de sentudo social e moral, reais ou simbólicas".

Esses novos métodos de aprendizagem, em São Paulo, foram aplicados na Escola Experimental Rio Branco, na Escola Americana (atual Colégio Mackenzie) primeiramente nos cursos primários. Somente na década de 1940 as idéias da renovação atingiram o ensino médio.  
Como contraponto e estímulo para a reflexão, aponto um trecho do também professor Saviani (1986, p. 14), sobre a propagação da pedagogia da Escola Nova:
"[...] “Escola Nova” organizou-se basicamente na forma de escolas experimentais ou como núcleos raros, muito bem equipados e circunscritos a pequenos grupos de elite. No entanto, o ideário escolanovista, tendo sido amplamente difundido, penetrou nas cabeças dos educadores acabando por gerar conseqüências também nas amplas redes escolares oficiais organizadas na forma tradicional. Cumpre assinalar que tais conseqüências foram mais negativas que positivas uma vez que, provocando o afrouxamento da disciplina e a despreocupação com a transmissão de conhecimentos, acabou por rebaixar o nível do ensino destinado às camadas populares as quais muito freqüentemente têm na escola o único meio de acesso ao conhecimento. Em contrapartida, a “Escola Nova” aprimorou a qualidade do ensino destinado às elites".

Lourenço Filho organizou várias coleções didáticas, desde a série Biblioteca Infantil da Ed. Melhoramentos (ver neste blog) e outras dedicadas à formação de professores das antigas escolas Normais.

Alguns livros escolares o consagraram, como os Testes ABC  livro para o Curso Normal (1ª ed. 1933),  Cartilha do Povo (1ª edição em 1929) e a série de leitura graduada Pedrinho, composta de textos para serem usados nos primeiros anos escolares, publicada em 1955, com inúmeras edições. Organizada para as escolas primárias, contém uma Cartilha (Upa Cavalinho), quatro livros para as séries do curso primário e um quinto para o aperfeiçoamento da leitura.
PEDRINHO é o nome do personagem do ‘Sítio do Pica Pau Amarelo’ de Monteiro Lobato. Será coincidência?

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE mantém dezenas de livros de autoria, organizados ou revistos por Lourenço Filho, sem dúvida um dos educadores mais atuantes do século XX.

Referências Bibliográficas:

 LOURENÇO FILHO, M. B. Introdução ao estudo da Escola Nova. São Paulo, Melhoramentos, 1978. (páginas: 175, 176 e 210).

SAVIANI, Dermeval.  Escola e Democracia.  São Paulo, Cortez, 1985. (p. 11-14).





[1] Movimento de Educadores da década de 1930, bastante estudado e divulgado. Consultar livros de História da Educação.

terça-feira, 11 de março de 2014

LIVROS ESCOLARES E O GOLPE CIVIL MILITAR



Neste ano de 2014 o golpe que instaurou a Ditadura Militar no Brasil completa 50 anos. Foi em março de 1964 que os militares derrubaram o governo e assumiram o poder.

Cinco generais governaram o país: Castelo Branco (1964-67); Costa e Silva (1967-69); Garrastazu Médici (1969-74); Ernesto Geisel (1974-79) e João Figueiredo (1979-85).

Nesse tempo de terror e autoritarismo os direitos democráticos foram banidos e um dos meios que o governo militar utilizou para propagar suas idéias foi a escola. Reformas na Educação impondo novas matérias de ensino com forte significado ideológico, junto a perseguições a professores deram o tom dessa época.

Livros de “Educação Moral e Cívica” substituíram os de Filosofia e Sociologia. Também “Organização Social e Política Brasileira” foi outra disciplina de ensino que compôs as mudanças na Educação, junto a Manuais de Civismo e Calendários Cívicos.

Em 2011 foi instituída, no país, a Comissão Nacional da Verdade para apurar abusos e transgressões aos direitos humanos. Vários eventos, no Brasil, se organizaram para lembrar esse período da nossa história recente.

O ACERVO HISTORICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE possui quase duas centenas de livros escolares que são importantes testemunhos e fontes de pesquisa de uma época na qual a educação foi instrumento eficaz de propagação de uma ideologia autoritária e dissimuladora da realidade.


É PRECISO NÃO ESQUECER PARA NÃO REIVENTAR!!!!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Poesia na Escola II


Como gênero literário e forma de expressão a poesia se caracteriza pela linguagem sugestiva, metafórica, figurativa, concreta e por aí vai.

Na Educação Infantil a poesia é um recurso para o aprendizado; é usada para aproximar a criança de uma linguagem com ritmo; através da rima a criança percebe melhor os sons; rimas facilitam o ensino da língua; metáforas incitam a criatividade, entre outras possibilidades.

Ao perceber a educação como uma prática intencional, os conteúdos dos livros usados nas escolas traduzem determinadas idéias, princípios, valores e precisam ser vistos a partir do contexto em que foram produzidos.

O civismo e a exaltação ao país se inserem em vários períodos da nossa história.  Assim, no início da República, a necessidade de se pensar a nação, a cidadania; no Estado Novo (1937-45), ditadura que usou  a escola entre outros meios para consolidar um Estado autoritário; no governo militar (1964-84), para justificar o golpe civil militar, entre outros  exemplos.

Os livros escolares, como instrumentos da cultura e da educação, são meios de propagação de idéias e representam aspectos da sociedade e do momento em que estão  inseridos

O AHLE resguarda vários livros escolares de poesias que enaltecem o civismo e sempre de forma acrítica da situação em que foram produzidos.

Recitando para o Brasil, organizado pelo prof. José de Melo Braga para o 1º e 2º anos primários é exemplo de livro que por meio da poesia e de diversos autores trata de datas festivas, tais como “Dia do Trabalho”, “Independência do Brasil”, “Dia das árvores” etc.

Outro livro: Poesias, Bondade e Pátria, de Gustavo Kuhlmann, de 1921, logo na apresentação faz  a seguinte observação:  a poesia é um poderoso auxiliar em todas as variantes as educação: intelectual, moral, cívica, estética e mesmo prática...


Outro exemplo As mais belas poesias patrióticas e de exaltação ao Brasil, antologia selecionada por Frederico dos Reys Coutinho, de 1954.

Como material educativo o livro A poesia no curso primário - Metodologia e Coletânea Seriada (1939) de autoria de Alaíde Lisboa de Oliveira, Zilah Frota e Marieta Leite, trata da função da poesia na escola e é voltada para professores com uma parte teórica e outra contendo poesias, segundo as autoras, adequadas ao público infantil.

Entre outros, o AHLE mantém centenas de livros escolares de língua portuguesa em seus vários desdobramentos, que podem ser buscados pelo emeio indicado neste blog.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

São Paulo nos livros escolares


A Vila de São Paulo, origem da cidade cosmopolita atual, foi fundada em 25 de janeiro de 1554 com uma missa e inauguração do Real Colégio de São Paulo de Piratininga pelos jesuítas. Instalada no planalto enfrentava grandes dificuldades, tanto pela serra de difícil acesso que a separava do litoral, quanto pela crueza na relação com os índios, os primeiros donos da terra.

A Vila era cercada como proteção e seus moradores constituíam-se de portugueses colonos, degredados, jesuítas e indígenas escravizados, capturados nas guerras e  os catequizados, na maioria Tupiniquins, que viviam no planalto.

         A Câmara da Vila já funcionava e era composta por um juiz, dois ou três vereadores, um procurador do conselho, um escrivão, um almotacel e um alcaide que se reuniam regularmente e, através das “posturas” (regulamentos) tratavam de questões administrativas e dos problemas cotidianos. Essas reuniões eram documentadas em forma de Atas e hoje se constituem em testemunho desses primeiros tempos.

          Referindo-se a cidade de São Paulo, o historiador Affonso d’Escragnolle Taunay aponta que: nenhuma das nossas grandes cidades quinhentistas pode ufanar-se da posse de um archivo como o de São Paulo. (TAUNAY,1920: 22).  Pois esse arquivo de que trata o historiador são as Atas da Câmara de Santo André da Borda do Campo e as Atas da Câmara da Villa de São Paulo, desde o século 16,  que se encontram no Arquivo Histórico Municipal de São Paulo.

As Atas da Câmara, na sua forma original, são manuscritos de papel de trapo, de difícil leitura pela ortografia da época e caligrafia dos escrivães.  Mas em 1914 foram decifradas e publicadas, ao longo do tempo, em livros. São 35 volumes, de 1555 até 1826, cuja decifração paleográfica dos 26 primeiros volumes ficou a cargo de Francisco de Escobar e os restantes por Manuel Alves de Souza, taquígrafo oficial, com o apoio de Washington Luis, então prefeito de São Paulo.

Além do testemunho desses documentos, São Paulo, que comemora no dia 25 próximo 460 anos, é retratada na literatura, na música e na pintura. “Adoro minha paulicéia e sou indivíduo do Brasil. Mas que gosto da rua Quinze, isso gosto deslumbrantemente”,  declarava Mário de Andrade em Pau-Brasil, 1925.

Já nos livros escolares, tema principal deste Blog, São Paulo é representada nas disciplinas de História e Geografia com diferentes enfoques que se inserem nos contextos em que foram produzidos. Por exemplo, nos livros do século 19 há o enaltecimento da cidade e do Estado que se desenvolvem rapidamente  e se adiantam economicamente ao país; já durante o Estado Novo, a figura do bandeirante é cultuada, principalmente após a derrota de São Paulo na Revolução Constitucionalista de 1932  e assim por diante.

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE resguarda inúmeros livros didáticos e para-didáticos que tratam da cidade e do Estado de São  Paulo em vários momentos de sua história.



 
Bibliografia:

ANDRADE, Mário de. Oswald de Andrade:Pau Brasil. set, 1925. IEB/USP.
 
TAUNAY, Affonso d’Escragnolle. “São Paulo nos primeiros anos (1554-1601) Ensaio de reconstituição social.” Tours Imprenta de E. Arrault et Cie, 1920.