Acervo Histórico do Livro Escolar - AHLE

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR é formado pelo conjunto de livros escolares das antigas bibliotecas públicas infantis da cidade de São Paulo.

Com 5 mil volumes, o Acervo é composto por cartilhas, manuais escolares de todas as matérias de ensino, antologias literárias e livros de referência de uso escolar, entre outros, do século XIX até a década de 1980 e abrange os cursos primários, os secundários, os de formação de professor e o ensino técnico.
O Acervo está localizado na Biblioteca Infantojuvenil Monteiro Lobato, equipamento da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.

Neste blog serão publicadas informações sobre esse acervo.


Seja bem-vindo.







segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Coração - Edmundo De Amicis

“Cuore”, do italiano Edmondo De Amicis (1846-1908) editado originalmente em 1886, teve primeira tradução para a língua portuguesa em 1891, por João Ribeiro, publicado pela Livraria e Editores Francisco Alves. O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE mantém dois volumes dessa tradução: uma de 1946, como 43ª edição e outra de 1953, a 45ª edição.



Em ambas uma advertência do tradutor, datada de 1925, indica porque usa termos em “brasileiro", diferentemente das traduções portuguesas da Europa: a preferência por uma “linguagem comum as expressões nacionais”.
Em forma de diário o livro conta histórias do cotidiano do menino Henrique, durante um ano escolar. É um livro de formação, como muitos da época, com ensinamentos de valores morais e cívicos.
O livro é dividido em meses escolares da Itália da época: de outubro a julho e trata de relatos sobre os colegas, os professores, a família, passeios e festividades. O protagonista, sempre em forma de crônica, traz cartas de seus pais e também contos mensais: “O patriotazinho de Pádua” e ”Naufrágio”, por exemplo, abrem e fecham o diário.
Livros´para crianças e jovens sobre comportamento e formação eram e ainda são comuns, mesmo que com outra roupagem.Temas e conceitos acompanham o contexto no qual foram produzidos e assim fontes de pesquisa precisam ser entendidas na conjuntura em que se deram.
Usado provavelmente como livro de leitura e com clara intenção pedagógica, pois os relatos são quase que diários e em formato curto, a publicação é sustentada por um eixo: acontecimentos por meio da interpretação do narrador, o menino Henrique.
Sucesso editorial quando foi publicado[1], provavelmente pelo apelo ao civismo e ao nacionalismo, valores tão disseminados no Brasil no período pós-república, o livro ganha agora nova edição.
Segundo Mônica Rodrigues da Costa, na Folha de São Paulo, Caderno Ilustrada de 24/12/2011, a editora Cosac Naify lançou nova tradução, por Nilson Moulin.
Esse lançamento traz a tona um livro de ensinamentos lido por várias gerações e que era mais conhecido no âmbito da pesquisa em Educação.


Notas:
[1] Verificar: BASTOS, M. H. C. Cuore, de Edmundo De Amicis (1886).Um sucesso editorial.
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Acesso:
www.galaxy.intercom.org.br

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Obras de referência

Obras de referência são aquelas que servem de apoio para ampliarmos ou nos certificarmos sobre o que interessa conhecer mais. Dicionários, vocabulários e Atlas estão nessa categoria.
Esse gênero de livro acompanhou e ainda acompanha a trajetória escolar de muitas gerações e também compôs os acervos das primeiras Bibliotecas Infantis da cidade de São Paulo. O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE resguarda vários desses livros, tais como: Dicionários de língua portuguesa, francesa, de latim e inglês: bilíngües e trilingues; Dicionários de dificuldades da língua; ilustrados; de rimas; de verbos; os chamados Dicionários práticos; vocabulários ortográficos etc., contando uma centena de exemplares. O mais antigo dicionário do AHLE é de língua francesa, de 1914: Larousse élémentaire ilustré.


Dentre esses livros de referência destaco o Dicionário Contemporâneo de Língua Portuguesa, conhecido como Caldas Aulete, de 1958, data da primeira edição brasileira. (1)
A origem desse dicionário consagrado por várias gerações no país é portuguesa, do fim do século 19 e de autoria do lexicógrafo Francisco Julio de Caldas Aulete, que morreu ainda na fase das escrita de sua obra.
Ora, Dicionários têm várias serventias. No livro A Barca de Gleyre, que contém quarenta anos de correspondência de Monteiro Lobato com Godofredo Rangel, seu amigo da época de estudante, Lobato confessa:
Já percorri este ano as primeiras 700 páginas do Aulete e breve chegarei ao fim porque está me agradando o passeio. (06/08/1909, p.258). Ou ainda: ando a passear pelo oceano das palavras, isto é, ando a ler o Dicionário Aulete e vou tomando notas. (p. 260).
Como vemos nem só para consulta serve um Dicionário.
Vale lembrar que atualmente temos o Aulete Digital: http://www.auletedigital.com.br/ disponível pela Lexikon Editora Digital.

Então por que preservarmos o dicionário em papel?
Bem, o site referido não existiria se não fosse a publicação original; os suportes de registros, desde a pedra, historicamente foram mudando: alguns substituídos e outros convivendo simultaneamente e essas mudanças traduzem diferentes expressões e contextos; o livro, como expressão cultural, recupera formas de pensar, de educar, compondo a história de uma época. Além disso, as diferentes edições do Dicionário trazem a possibilidade de estudos comparativos ou sobre as mudanças na língua portuguesa ao longo do tempo.
Assim um acervo como o AHLE preserva a história e resguarda material que interessa a pesquisadores e aos que buscam sua memória escolar.

Notas
(1) O AHLE possui outro exemplar, de 1979, revisado e aumentado.

Bibliografia
LOBATO, Monteiro (1959). A Barca de Gleyre. SP, Brasiliense, 1º tomo.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Malba Tahan



Malba Tahan (1895-1974), heterônimo de Julio Cesar de Mello e Souza, foi homenageado na Fliporto, evento literário que ocorreu em Olinda, Pernambuco, neste mês de novembro.



Professor de matemática Malba Tahan publicou inúmeros livros didáticos com cunho menos rígido, preocupando-se em atrair crianças e jovens para o mundo da matemática, matéria que muitas vezes foi e ainda é um entrave na trajetória escolar de muitos alunos. A didática do autor na transmissão da matéria não teve muitos seguidores. Afinal o que vemos são livros escolares bem tradicionais no tratamento da matemática para os estudantes. Sem dúvida as novas tecnologias devem ter facilitado, ao menos pela interação, o aprendizado dessa disciplina. Mas essa é outra história.


Em Matemática Divertida e Curiosa, publicado em 1934 há uma ”aula”: A geometria e o amor. Nela o autor relata a percepção de uma moça quando um pretendente seu, ao acompanhá-la de volta para casa, não mais ladeava as faces da praça por onde passavam e sim seguia pela diagonal da praça, mostrando seu desinteresse. Afinal era a linha mais curta.

“O Homem que calculava”, de 1938, por exemplo, talvez seu livro mais conhecido, teve inúmeras edições e foi usado por várias gerações.


Confundido como de origem árabe por conta do pseudônimo esse professor nasceu no Rio de Janeiro e adotou a referência ao mundo árabe “como homenagem ao povo que se notabilizou pelo desenvolvimento da matemática”, de acordo com André Pereira, neto do autor.



Segundo matéria da Folha de São Paulo[1] será lançado um site com vídeos, fotos, textos e entrevistas, como também desafios matemáticos. (www.malbatahan.com.br)



O ACERVO HISTORICO DO LIVRO ESCOLAR resguarda mais de uma dezena de livros do autor, alguns como Mello e Souza e outros como Malba Tahan, tais como: “Diabruras da Matemática” de 1943 e “Matemática Divertida e Delirante”, edição de 1962, entre outros.



Ilustrações:



MELLO E SOUZA. Histórias e fantasias da matemática.Ed. Calvino. 1939.



MELLO E SOUZA. As grandes fantasias da matemática. Ed. Getulio Costa, RJ, 1945.



Notas:
[1] Almeida, Marco Rodrigo. Folha de São Paulo. C. Ilustrada, 12 de novembro de 2011.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ensino de História

A Reforma de ensino dos anos de 1930,(1) que levou o nome do então ministro da Educação, Francisco Campos foi uma iniciativa que organizou a nível nacional os cursos secundários, entre outras disposições. Grau de ensino de alçada do governo central, esses cursos se limitavam a seguir o currículo do Colégio Pedro II do Rio de Janeiro, modelo de ensino para todo o país. É comum em livros escolares mais antigos os dizeres, “De acordo com o programa do Colégio Pedro II”.
Nessa reforma o ensino secundário previa um ciclo fundamental de seis anos onde a disciplina história aparece em todas as séries. Nos ciclos complementares,(2) de dois anos, a história compõe o ciclo para candidatos à Faculdade de Direito.
A história, como disciplina, formou-se, no Brasil, pautada pelo modelo do Instituto Histórico e Geográfico, criado em 1838, permeando-se pela preservação de mitos e heróis e pela incursão em um passado glorioso, de feitos heróicos. Programas oficiais de ensino e os livros didáticos reiteraram essa visão.
Essa tradição positivista ou abordagem tradicional da história privilegia a cronologia, as personagens e suas ações como que descoladas de qualquer contexto. Ou seja, a história vista como uma sucessão de fatos, onde a dimensão individual é reforçada e não um processo dinâmico e contraditório de embates e mudanças. O modelo tradicional do ensino de história foi preponderante e vigorou até os anos de 1960, sendo então reiterado durante o período da Ditadura Militar.
O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE resguarda livros escolares de história desde o fim do século 19 até o início dos anos de 1980, contando com aproximadamente 200 títulos e sem dúvida trazendo um rico panorama do ensino dessa matéria.


Notas:


1. Em 1930, como chefe do governo provisório, Getúlio Vargas criou, entre outros, o Ministério da Educação e Saúde Pública.
2. Eram três ciclos de dois anos, assim distribuídos: candidatos à Faculdade de Direito; candidatos às Faculdades de Medicina, Odontologia e Farmácia e candidatos aos cursos de Engenharia e Arquitetura. Fonte: Romanelli, Otaíza. História da Educação no Brasil. SP, Vozes, 1988
.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Viriato Corrêa: literatura e educação



Viriato Corrêa (1884-1967), reconhecido escritor e jornalista, além de literatura, escreveu livros de uso escolar. (1) Foram vários os escritores que se dedicaram a escrever livros didáticos ou paradidáticos para crianças.  Da mesma forma, os primeiros livros de literatura infantil usados nas escolas foram escritos por professores. Além dos ensinamentos próprios, esses livros traziam histórias exemplares, lições de moral e de comportamento.
Um dos livros mais célebres do Viriato é Cazuza, no qual retrata aspectos da educação escolar dos anos de 1930. Para quem usa literatura como uma das fontes de pesquisa para a História da Educação, esse livro é, entre outros, uma rica referência..
Viriato Corrêa tem muitos livros de História do Brasil ilustrados por Belmonte, famoso ilustrador de livros de literatura. Belmonte ficou conhecido como um dos principais ilustradores da obra infantil de Monteiro Lobato.
É interessante notar que Viriato enfatizava em seus livros para crianças a importância das ilustrações, recurso usado principalmente a partir dos anos de 1930. No preâmbulo do livro História do Brasil para crianças, de 1934 (o AHLE possui a edição de 1952) o autor assim se expressa:

Às crianças só interessa o que é vistoso (...). O aspecto filosófico produz-lhes enfado e sonho. Neste livro procura-se dar as crianças apenas a superfície vistosa da história brasileira.

Muitos dos livros de Viriato ou outros escritores foram usados como leituras cívicas. Um exemplo é o livro Contos da História do Brasil (para uso das escolas), de 1921. Nele o autor, dirigindo-se ao leitor, explica que adotou a classificação por períodos históricos de Sylvio Romero, pois classificações facilitam o entendimento da criança. Assim o livro é escrito em ordem cronológica dos acontecimentos desde o Descobrimento até a República, dividido em cinco episódios.
O AHLE mantém vários livros de escritores que se dedicaram também a escrever livros de ensinamentos para as crianças.
Outros livros do AHLE de Viriato Correa: As belas histórias do Brasil, de 1947, Cia Ed Nacional com ilustrações de Manuel Vitor de Azevedo Fo. e Curiosidades da História do Brasil, de 1952.


(2)





Notas


(1) Um trabalho bem abrangente sobre Viriato: Literatura Infantil, história e educação: um estudo da obra de Viriato Corrêa foi Dissertação de Mestrado da Faculdade de Educação da UNICAMP escrita por Ana Elisa de Arruda Penteado em 2002. Atualmente a autora doutorou-se em Educação.

(2) História do Brasil para crianças. p. 42. Ilustração retratando Pedro Álvarez Cabral.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Olavo Bilac e livros escolares




Bilac (1865-1918) nasceu no RJ e é reconhecido poeta brasileiro. Produziu crônicas, foi jornalista e membro-fundador da Academia Brasileira de Letras, em 1896. Afinal quem não se lembra da abertura do soneto Língua Portuguesa - Última flor do Lácio, inculta e bela - ? Mas o “príncipe dos poetas brasileiros” dedicou-se também a livros para crianças com fundo didático. Literatura para crianças e livros escolares andaram juntos nas primeiras décadas do século 20 e foram comuns livros de leitura para o aprendizado da língua e ao mesmo tempo, de fundo moralizante, com histórias exemplares ou conteúdo formador de padrões de comportamento.
Com efeito, impulsionado pelo patriotismo Bilac escreveu livros voltado para o público infantil, de conteúdo cívico, como Contos Pátrios (para as crianças), em 1904, com ilustração de Vasco Lima e em parceria com Coelho Neto e Pátria Brazileira – a Educação Moral e cívica para os alunos das escolas primárias, 1ª ed. de 1911, também com Coelho Neto.
O civismo no período de Bilac era o da pós república, onde elementos da cultura nacional e dos símbolos da pátria foram difundidos.

Entre outros livros, Poesias Infantis, de 1924, tem prefácio em que o autor destaca que é livro destinado às escolas primárias do Brasil, com versos simples para contribuir com a educação moral das crianças.
O livro em questão foi encomendado pela Alves e Cª (Editora Fco. Alves) para uso das aulas de instrução primária.
Theatro Infantil – comédias e monólogos em prosa e verso, de 1926, em parceria com Coelho Neto; Tratado de versificação a poesia no Brasil e métrica, os gêneros literários, com Guimarães Passos e Através do Brasil (narrativa) prática de língua portuguesa, com Manoel Bomfim, são outros livros que traduzem a preocupação pedagógica de Bilac na sua produção para o público infantil.
Os livros citados estão disponíveis no ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE, nem sempre as primeiras edições.
Outros livros do que poderíamos chamar de literatura pedagógica fazem parte do Acervo.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

O livro didático, a censura e a propagação de um ideário




Uma das primeiras manifestações oficiais quanto à produção do livro didático no Brasil foi durante o Estado Novo (1937-1945). O exercício da censura e o direcionamento do Estado em propagar seu ideário em relação à educação e ao livro escolar, se expressaram, por exemplo, quando da criação da Comissão Nacional do Livro Didático pelo Decreto-Lei 1006 de 30 de dezembro de 1938. Essa Comissão, desdobramento do Instituto Nacional do Livro, de 1929, exerceu o controle da produção e da veiculação dessas obras durante o período.

A influência direta dos poderes públicos na edição e distribuição de livros escolares fica evidente no Decreto-lei nº 1177 de 29 de março de 1939:
A partir de 01 de janeiro de 1940 será vedada a adoção de livros didáticos de autoria do professor, na sua classe, do diretor, na sua escola, e de qualquer outra autoridade escolar de caráter técnico ou administrativo, na circunscrição sobre que se exercer a sua jurisprudência, salvo se esse livro for editado pelos poderes públicos. (NOBREGA, 1952, p. 599).
Sem dúvida, em períodos históricos de regime de força, a educação escolar foi tratada como um dos sustentáculos da ideologia que consubstanciou esses regimes. Dito dessa forma parece dispensável e reiterativa uma análise nessa perspectiva, já que de antemão sabe-se como são reproduzidos determinados valores.
Mas não é bem assim. Algumas questões se colocam: como é feita, nos vários momentos, essa transmissão? Ou seja, que mecanismos são utilizados? Quais são os desdobramentos dessas práticas, que se tornam parte de uma cultura? Como exemplo, no autoritarismo, que foi reforçado em vários períodos da nossa história, identifica-se certa herança que compõe a sociedade brasileira.
O livro didático foi um dos instrumentos que expressaram os objetivos da educação durante o Estado Novo, tanto os manuais das várias disciplinas de ensino quanto os livros recomendados como de uso escolar. Segundo CAPELATO (1998, p. 219), Esses livros constituem elementos privilegiados para estabelecer conexões entre os programas e a sala de aula e nesse sentido entre Estado e sociedade, assim como entre professores e aluno.
Na ditadura militar de 1964-1984 não foi diferente. Além da introdução de novas disciplinas com o claro intuito de propagar idéias que legitimassem o regime, como Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política do Brasil, houve férrea censura quanto à produção e uso do livro escolar.
Os conteúdos dessa produção didática censurada e voltada para a propagação de valores legitimadores de regimes de força demonstram a preocupação, nesses períodos, com a formação das novas gerações. Nessa formação busca-se disseminar um ideário autoritário, criado a partir da invenção da sociedade brasileira enquanto movimento homogêneo, sem conflitos para um próspero futuro. O livro escolar, então, como instrumento mediador entre as concepções políticas e as práticas educativas e culturais.
O AHLE resguarda inúmeros livros escolares do período do Estado Novo e da ditadura militar de 1964.

Referências Bibliográficas

CAPELATO, Maria Helena.(1998). Multidões em cena – propaganda política no varguismo e no peronismo. Campinas, Papirus.

MAFRA, Antonio Carlos de O. (1942). Episódios da Historia do Brasil em versos e legendas para crianças. Gráfica Perfecta Ltda
NÓBREGA, Vanbdrick L. (1952). Enciclopédia da legislação do ensino. RJ, v.2, 1952.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

MOBRAL

O Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL foi um programa de educação de adultos entre 1971 e 1985, durante a ditadura militar, instituído pela Lei Nº 5379 de 15/12/1967. Caracterizou-se como empreitada de grande porte e com claro interesse político ideológico.

Programas para alfabetizar a população adulta datam das primeiras décadas do século 20, mas nos anos de 1960 surge uma nova referência sobre esse tema: a pedagogia de Paulo Freire.

De forma resumida essa pedagogia visava articular educação popular e consciência política. Com o golpe militar de 1964, qualquer manifestação desse naipe foi censurado e seus mentores perseguidos.

Com um propósito alfabetizador e ideológico e partindo de palavras-chave (igual ao método de Paulo Freire) o MOBRAL diferenciou-se por conter princípios propagados pela ditadura militar onde critica e problematização da realidade estavam ausentes.

Segundo a apresentação do programa pelo governo federal, “O atual ritmo do MOBRAL nos convence de que chegaremos a 1978 com índices de alfabetização semelhantes aos das nações de maior progresso econômico e social. E estamos certos de que esse movimento, que não é mais uma promessa e sim uma realização, atesta o que o povo brasileiro pode construir pela conjugação do seu entusiasmo com uma administração racional”. (1)
Isso não ocorreu como atestam o número de analfabetos no Brasil no fim dos anos de 1980 e ainda hoje.

O AHLE mantém um exemplar do MOBRAL e outros livros escolares editados pelos poderes públicos. Como exemplo a Coleção Educar.


Figuras:


1. Capa do Livro de Leitura, 9ª ed. s/d.


2. Página ilustrando "palavras-chave"


3. Página interior das Coleção Educar, s/d.



terça-feira, 10 de maio de 2011

Algumas considerações sobre pesquisa em História da Educação (1)

O objetivo principal deste Blog é divulgar um acervo de livros escolares antigos, fonte de pesquisa, na medida em que recupera aspectos culturais e educacionais de várias épocas.
Como instrumento pedagógico, o livro escolar é expressão de conteúdos, de métodos de ensino, mas também de ausências, do que foi excluído e não explicitam o seu uso na prática educativa.
Nesse sentido a reunião de informações, muitas vezes fragmentadas e as conexões com um universo mais amplo, transformam esse material em significados explicativos, que contribuem para o conhecimento do processo educacional e não se tornem apenas fragmentos esparsos do passado. Nas palavras de HOBSBAWM (1998, p. 229), não só descobrir o passado, mas explicá-lo e ao fazer isso, fornecer um elo com o presente.
Para tanto o livro escolar é um material que não deve ser supervalorizado, pois por si só não contém um caráter elucidativo; a problematização dentro de um quadro explicativo e de um referencial teórico; o cuidado para não nos deixarmos influenciar por uma visão impregnada do presente e a necessidade de historicizá-los são alguns procedimentos que atribuem ao livro escolar valor documental para a pesquisa.
Objeto da cultura, o livro escolar insere-se em um ambiente pedagógico específico e em um contexto histórico e cultural, como produto da intencionalidade do processo educativo que por sua vez está impregnado pelos vários interesses que compõe determinada organização social.
A par disso os livros escolares podem ser estudados em várias áreas do conhecimento histórico. Por exemplo, ao resguardarem uma forma de expressão que se alterou com o tempo, proporcionam a recuperação dos modos de comunicação e de linguagem entre o autor, o editor e a criança e o jovem escolar. As diferentes edições de um mesmo título oferecem revisões do livro, novas ilustrações, capas diferentes, informações que caracterizam as mudanças editoriais e o percurso da produção do livro escolar.
A preservação desses livros implica também a preservação da memória educativa e cultural de várias gerações.



Referências bibliográficas: HOBSBAWM, E. (1998) Sobre a História. São Paulo, Cia das Letras, 1998.



Notas: 1. Parte deste texto foi publicada na Revista Online Histedbr.



Imagens:1. Santos, Theobaldo M. (1949) A arte de estudar e fazer exames. SP, Cia Ed. Nacional.


2. Cardim, Carlos A. Gomes (1926) Tradições nacionais. SP, Typ. Siqueira.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Biblioteca Monteiro Lobato e o AHLE

O AHLE é constituído principalmente pelos livros escolares resguardados nas antigas bibliotecas infantis da cidade de São Paulo. Na origem dessas bibliotecas está o Departamento de Cultura, órgão da prefeitura de São Paulo, criado em 1935. Dirigido por Mário de Andrade esse Depto propunha a instalação da primeira Biblioteca pública para crianças, a Biblioteca Infantil Municipal inaugurada em 1936, atual Biblioteca Monteiro Lobato.







A década de 1930 é considerada por muitos estudiosos um marco da modernidade nacional. Em São Paulo, a expansão urbana, o processo de produção industrial e a crescente densidade populacional foram características que impuseram à cidade uma nova conformação, a extensão do acesso à educação e novas necessidades de cunho cultural.

Acrescenta-se a isso, a escola nova, movimento que preconizava outros moldes para a educação e que se fez sentir também na ampliação de equipamentos de educativos. Nesse contexto, a função de educar foi delegada à escola e a outras instituições, favorecendo a criação de uma biblioteca infantil pelos poderes públicos.
A Biblioteca Infantil da cidade de São Paulo foi o embrião de outras que se formaram nas décadas de 1940 e 50. Essas bibliotecas resguardaram parte do seu acervo não mais disponibilizado para o público, tanto como reserva técnica, quanto na expectativa de definições oficiais acerca do destino desse material. O livro era retirado de circulação por vários motivos, tais como: livros muito manuseados, não mais procurados pelo público ou por estarem desatualizados em relação à nomenclatura e ao conteúdo.
Nesses acervos preservados encontravam-se livros escolares antigos e assim formou-se um acervo especial para pesquisadores da Educação e de outras áreas, o Acervo Histórico do Livro Escolar – AHLE, que faz parte da Seção de Bibliografia e Documentação da Biblioteca Monteiro Lobato.
Em abril deste ano a Biblioteca completou 75 anos e sempre no mesmo bairro, a Vila Buarque, região central da cidade. Como primeira diretora da Biblioteca Infantil foi convidada Lenyra Fraccaroli, normalista da turma de 1932 da Escola Caetano de Campos e responsável pela organização da Biblioteca Escolar dessa escola sob a orientação do Prof. Antonio D’Avila. A permanência na direção até 1960, quando se aposentou e sua participação no processo de expansão das Bibliotecas Infantis pela cidade de São Paulo, entre 1940 e 1950, faz de Lenyra uma importante protagonista nos projetos e nas características dessas primeiras bibliotecas.
Assim o AHLE representa fonte de pesquisa na área da Educação e da Cultura como também material que recupera a função da Biblioteca Infantil e da rede que se constitui nos anos 40 e 50 e as políticas públicas no âmbito da educação extra-escolar no período.

Imagens:

1. Folheto de divulgação do AHLE.


2. Imagem da frente da Biblioteca Monteiro Lobato

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Diretor de Escola


(1)

Os primeiros cursos voltados especificamente para a formação do administrador escolar , em São Paulo, se deram na reforma de ensino da década de 1930.

Esse período, caracterizado pela crise do modelo agro-exportador e início do modelo desenvolvimentista baseado na industrialização, é reconhecido por alguns historiadores como o da modernidade nacional.


Nesse contexto a educação escolar foi considerada instrumento de inserção e ascensão social, refletindo em uma maior demanda por educação, principalmente a primária e a na expansão dos equipamentos escolares.

Essa expansão e as idéias preconizadas pelo movimento escolanovista (o Manifesto dos Pioneiros da Educação foi assinado em 1932) fizeram com que várias reformas educacionais fossem efetivadas. Não esqueçamos que os cursos primários e de formação de professores eram da alçada dos estados.


Em São Paulo várias reformas educacionais se estabeleceram nos anos de 1930. Educadores ocuparam cargos na administração pública, como Fernando de Azevedo (diretor da Instrução Pública de SP em 1933) e Lourenço Filho, (diretor da instrução pública em SP em 1931).


O novo cenário fez com que a carreira e a formação do profissional da educação e especificamente do administrador escolar fosse foco de interesse. Afinal o cargo de diretor de escola era recente: inserido na organização educativa com a instituição dos Grupos Escolares na Primeira República.

(2)

Assim, a Escola Normal de São Paulo, criada em 1846, se estabelece definitivamente no século 20 sofrendo várias reestruturações nesse período. Em 1931 foi reorganizada em 4 anos e em seu currículo foi incluída a disciplina Organização Escolar, voltada para a formação do inspetor escolar, do delegado de ensino e do diretor de grupo escolar.


No mesmo ano foi alçada à condição de Instituto Pedagógico com um curso de aperfeiçoamento pedagógico, de dois anos, onde aparece uma cadeira de Administração Escolar, para inspetores, delegados de ensino e diretores. Em 1933 esse Instituto foi transformado em Instituto de Educação.


Em 1934 foi criada a Universidade de São Paulo e nela a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. O Instituto de Educação foi absorvido e a cadeira de Administração Escolar compôs o Curso de Especialização para Administradores Escolares, com 2 anos de duração, sob a regência do Prof. Roldão de Barros, considerado fundador dos estudos de administração escolar em São Paulo. No Rio de Janeiro Carneiro Leão é considerado um precursor da matéria.


A bibliografia desses primeiros cursos, editada no exterior e em inglês, é indicativo da escassez de uma produção nacional. Vale acrescentar que esses primeiros estudos se pautaram sob a influência da administração empresarial, questão que acompanhou e acompanha as análises sobre a vocação da administração escolar (o termo gestor educacional, em substituição ao diretor, é recente). (3)


Em 1929 Lourenço Filho traduziu Techno-psychologia do trabalho industrial de Leon Walther, considerado o primeiro livro com noções de administração em lingua portuguesa. A partir dos anos de 1950 há uma produção nacional sobre administração escolar: Princípios e Normas de Administração Escolar de Ruy de Ayres Bello prof. do Instituto de Educação de Pernambuco; Noções de Administração Escolar de Theobaldo Miranda dos Santos. Nos anos de 1960, Lourenço Filho publica Organização e Administração Escolar.


Esses e outros livros sobre o tema podem ser consultados no ACERVO HISTORICO DO LIVRO ESCOLAR – AHLE.


Notas:
(1) BELLO, Ruy de Ayres. Princípios e Normas de Administração Escolar. SP, Ed. do Brasil, 1965, 3ª ed.

(2) LOURENÇO FILHO, M. B.Organização e Administração Escolar. SP, Melhoramentos, 1967, 2ª ed.


(3) Verificar: ANDREOTTI, A., LOMBARDI, J. e MINTO, Lalo (orgs.) Historia da Administração Escolar no Brasil: do diretor ao gestor. Campinas, Alínea, 2010.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

As Normalistas

(fig. 1)
Os cursos de formação de professores, no Brasil, remontam ao século 19, quando foram criadas Escolas Normais nas diversas províncias (atuais estados) do país. Sem dúvida a criação da Escola de Primeiras Letras, prevista na constituição de 1827, foi um dos fatores da necessidade de cursos específicos para a função de professor. Esses cursos tiveram existência precária durante o século 19 até se consolidarem com a República, com o advento dos Grupos Escolares. Cabe esclarecer que estamos falando da escola que formava professores (as) primários (as).
Em São Paulo a Escola Normal foi criada em 1846 (1) com várias interrupções e durante o século 20 foi palco de inúmeras intervenções até sua extinção com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação n.9394/96, que previu formação superior para os professores da educação básica.
A Escola Normal da Praça ou Escola Caetano de Campos foi um marco na formação das normalistas até porque São Paulo ditou em muitos momentos as novas tendências pedagógicas, foi precursor de mudanças e muitas vezes, modelo para outros estados do Brasil.
A “normalista”, imortalizada no cancioneiro popular e em tantas outras manifestações; a figura materna que se confundia com a professora primária; a “vocação” feminina, tão difundida no trato com as crianças; o uniforme e tantos outros indícios fortalecem a lembrança e a presença romântica dessa professorinha que a tantos
encantou.
A localização da Biblioteca Monteiro Lobato, próxima a Escola Caetano de Campos e a formação de sua primeira diretora, Lenyra Fraccaroli, normalista desta escola, favoreceram a aquisição, pelos poderes públicos, de um considerável acervo de livros que serviram aos estudantes das Escolas Normais.
Assim, nos registros sobre a história da Biblioteca encontram-se depoimentos sobre a presença de normalistas, que procuravam mapas e gravuras para as suas aulas e também livros para os seus estudos.
Com isso o ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE mantém mais de 200 títulos destinados a formação do professor (a) primário nas antigas Escolas Normais, contribuindo assim com a pesquisa na área da educação e também com essa faceta até nostálgica que a figura da antiga professora nos traz.

(Fig. 1) MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E SAÚDE. “Leitura e Linguagem no Curso Primário”. Rio de Janeiro, Publicação do Instituto nacional de Estudos pedagógicos – INEP, 2ª. Tiragem revista, 1951.
(Fig. 2) SANTOS, Theobaldo Miranda. "Manual do Professor Primário". S. Paulo, Ed. Nacional, 1954, 3ª ed.
(Fig. 3) FONSECA, Anita. "O Livro de Lili". São Paulo, Cia Ed. nacional, 3ª. Ed., 1954.

Notas:

(1) Para maiores informações verificar MONARCHA, Carlos. Escola Normal da Praça- o lado noturno das luzes. Campinas. Ed. UNICAMP, 1999.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

A origem das palavras e saudade do latim

(1)
Presidente ou presidenta? Questão recente em nosso país com a eleição de Dilma Roussef. Polêmica que alcançou o Senado Federal, intervenções em jornais e inúmeras consultas a especialistas da nossa lingua.
A maioria agora sabe que tanto faz, não quem ocupa o cargo, é claro, mas a forma masculina ou feminina para referenciarmos a quem atualmente preside nosso país.
Por curiosidade busquei a palavra no "Houaiss", jeito carinhoso de dirigir-nos ao dicionário de tão consagrado linguista. Assim eu soube que a palavra é de origem latina: paesindes, êntis; particípio presente de praesidère.


Pois bem, o latim foi lingua extinta dos currículos escolares, assim como o francês, com a Lei n. 5692, de 1971, que reformulou toda a estrutura do ensino no Brasil.
Atualmente a lingua inglesa e a lingua espanhola fazem parte da grade escolar.

(2)

O ACERVO HISTÓRICO DO LIVRO ESCOLAR - AHLE resguarda vários livros de latim, de francês e de inglês desde as primeiras décadas do século 20, dos antigos cursos ginasiais (atualmente 5ª a 8ª série do ensino fundamental) e também dos cursos clássico e científico (antiga divisão do que é hoje o curso médio ou recentemente o 2º grau).
Sem dúvida essas mudanças de nomenclatura, constantes no nosso sistema de ensino, mais atrapalham do que ajudam na recuperação da memória escolar.
(3)
Mesmo assim alguns se lembram do professor de latim e suas declinações. Ou então da palavra "madame" forma respeitosa de dirigir-se as professoras de francês. E as letras de música que traduzia-se do inglês, na já invasora cultura americana que tanto seduzia? Além do cinema, é claro!

Afora os manuais escolares com as matérias de ensino, gramáticas e dicionários compõem mais de uma centena de livros escolares de lingua estrangeira do AHLE.



Notas:

(1) VALENTE, Pe. Milton, S. J. Gramática Latina para as quatro séries do Ginásio, Porto Alegre, Liv. Selbach, 1952.
(2) COSTA, Aída. Segundo Livro de Latim, 2ª série, curso ginasial. S. Paulo, Ed. do Brasil, 1953, Ilustração de contracapa.
(3)RAINHA, Augusto R. e GONÇALVES, José A. Cours de Français: première année. S. Paulo, Ed. do Brasil, 1963.